Por quê é importante respirarmos corretamente?
A primeira coisa é definirmos o que é uma respiração correta. Dependendo do objetivo, existem várias formas corretas para respirar. Na natação respira-se pela boca, já na corrida utiliza-se o nariz e a boca para aumentar a ventilação pulmonar e consequentemente trazer mais resistência. Para mergulho em apnéia utiliza-se a hiperventilação para aumentar o tempo e permanência embaixo da água. São apenas alguns exemplos das diversas formas e objetivos de respiração. Já para o yoga, a respiração tem a função de controlar a energia vital (prána), aquietar a mente e tranquilizar estados emocionais alterados.
Existe uma forma correta?
Para atividades diárias e manutenção da vida, a respiração nasal é a mais indicada, cujo objetivo é de filtrar e aquecer o ar que respiramos.
Se estamos muito agitados a respiração é capaz de acalmar?
Sim. Existe uma relação estreita entre os ritmos respiratórios e estados de consciência. Para obter esse objetivo de acalmar, a respiração deve ser lenta e profunda, com um ritmo constante e confortável. Uma mente agitada causa uma resposta fisiológica de “lutar ou fugir”, secretando adrenalina e cortisol (hormônios relacionados aos stress) na corrente sanguínea. E o stress, é causador de uma série de distúrbios cardiovasculares, tensão muscular, diminuição do sistema imunológico, insônia, entre outros. Além de tornar a mente ainda mais hostil, reativa e negativa. Gerando assim um “círculo vicioso”. É preciso cortar esse ciclo. Ao respirar lenta e profundamente pelo nariz, gradualmente todo o metabolismo baixa. Passamos deliberadamente a informação de que “tudo está perfeitamente bem” e a mente se organiza. As emoções se estabilizam de tal forma que se reestabelece o equilíbrio natural, permitindo a resolução clara e objetiva das diferentes situações que possam ter sido as causadoras da agitação mental.
Já sabemos que a meditação traz muitos benefícios nos sistemas cerebral e imunológico, proporcionando a redução da tensão, a concentração e aliviando a dor e o estresse. Há mais algum benefício?
Além desses e de outros benefícios fisiológicos, existem os que não podem ser mensurados cientificamente, embora já existam muitos avanços sobre o assunto nas áreas de neurociência e psicologia. A meditação favorece espaço de silêncio importantíssimo nos dias atuais de tanto ruído. Neste espaço de silêncio é onde podemos observar os fatos, as coisas e a nós mesmos sem a influência e pressões externas. E através desta observação aprender a acomodar as situações e pessoas do jeito que são, nos libertando de julgamentos, apegos, aversões.
Ao observar a vida como ela se apresenta, aprendemos a vivenciar e apreciar o momento presente, e não no saudosismo ou em ” sentimentos de culpas” do passado e nem na incerteza do futuro. O presente é onde a vida acontece! e onde podemos realmente fazer alguma coisa! Isso nos traz a dimensão da atemporalidade, o reencontro da beleza, da paz e harmonia que são inerentes a toda natureza. Vivencia-se uma experiência de plenitude que não é condicionada a nada nem a ninguém. Esse é o ponto-chave da meditação e da sabedoria de viver de forma meditativa.
Existe algum segredo para meditar?
Não existe segredo para meditar. É necessário, vontade de começar, persistência para continuar e comprometimento consigo mesmo para desfrutar da meditação. Afinal até para os mais experientes, existem dias que são muito difíceis de se concentrar e meditar, é natural. Basta observar essas mudanças, se libertar de julgamentos, comparações ou cobranças. Acredito que tudo que é forçado é contraproducente e não se sustenta. A moderação e a persistência é o caminho para conquistar qualquer coisa nesta vida.
Muitas pessoas agitadas dizem que jamais conseguirão meditar porque não conseguem se concentrar. É verdade? Como é o treinamento para elas?
Cada vez mais chegam pessoas no Yogaluz com este mesmo tipo de afirmação. Acredito que este universo veloz e digital dificulta muito nosso poder de concentração. A boa notícia é que a concentração é treinável! O primeiro passo é refletir e identificar porque você quer meditar. O segundo passo é começar! Claro que após um dia de trabalho, onde a mente foi muito exigida, de repente parar tudo e dizer “vou meditar” é meio caminho andado para frustrações. É necessário uma preparação para o momento a meditação. Quase como um “aquecimento” antes dos exercícios físicos, sabe? Criar um ambiente físico e mental para quietude e concentração. Comece por preparar um lugar gostoso em sua casa, ou vá a um lugar na natureza que você gosta. Faça alguns movimentos de alongamentos, de espreguiçar, a fim de se “desligar” do ambiente de trabalho. Observe a sua respiração e “ brinque” com ela colocando um ritmo uniforme, constante e confortável, de forma que você possa fazer alguns ciclos ininterruptos sem ficar ofegante. Busque primeiramente inspirar e exalar em tempos iguais, por exemplo: 4 segundos inspirando e 4 segundos exalando. Observe o que é mais fácil para você, inspirar ou exalar. Desfrute da certeza de estar vivo e de como é bom respirar. Aí então o feche os olhos e observe-se, sem questionar, julgar ou viajar quando os pensamentos chegarem. Deixe –os passar. Se precisar volte ao ritmo de 4 tempos para se concentrar novamente. E assim prossiga.
Comece se comprometendo por 5 minutos, persista que naturalmente você aumentará este tempo e o prazer de ficar em silêncio e imóvel.
É importante começar aos poucos, de outra forma pode-se criar uma aversão desnecessária para meditar.
Para os iniciantes, como deve-se começar a prática de meditação?
Primeiro: escolha um ambiente agradável.
Segundo: comprometer-se em um mesmo horário e local, cria uma disposição mental e biológica para meditação, o que facilitará muito todo o processo.
Terceiro: Se espreguice, alongue o corpo por alguns minutos. Desde a cabeça aos pés aliviando as tensões e fazendo a energia vital circular.
Quarto: Concentre a atenção na sua respiração. Pode ser deitado, sentado e até mesmo em pé. Observe a respiração natural e depois coloque um ritmo que pode ser de 4 tempos para inspirar e exalar. Mantenha o conforto e a constância.
Quinto: Escolha uma posição confortável e ereta, pode usar cadeira, almofada, mas evite deitar que é fácil dormir.
Sexto: Escolha um objeto para concentrar sua atenção exclusivamente. Pode ser a respiração , como uma paisagem, uma flor, vela, um mantra, etc. Algo bonito e inspirador para você.
Sétimo: A mente vai se distrair, então pacientemente traga–a de volta com o foco no objeto de concentração escolhido. A consciência percebe a distração e “chama” a mente de volta. Assim serão várias vezes. Com a prática você vai perceber que a mente vai conseguir permanecer por mais tempo concentrada, e a consciência irá perceber mais rápido a distração. Com isso gradativamente você vai “deslizar” para o estado meditativo onde objeto e observador se fundem. Você terá uma experiência única e inexplicável de meditação. A sensação de leveza e paz interior preencherá você por inteiro.
Oitavo: Mãos unidas em frente ao coração em agradecimento à vida e a todas as lições , conquistas e aprendizado até o momento.
Importante: Mantenha sempre uma atitude de testemunha, observando too o processo com distanciamento, evitando os julgamentos, gostos e aversões que são os vilões da meditação.
Como, efetivamente, a meditação ajuda na concentração?
Na verdade é o contrário. A concentração é que irá favorecer e conduzir ao estado meditativo. É necessário antes de tudo um mínimo de abstração da influência que os 5 sentidos impelem sobre a mente, ou seja, você percebe tudo ao seu entorno: sons, cheiros, luminosidade, conforto ou desconforto físico e não se envolve com que é percebido. A partir daí é necessário se concentrar em um único objeto, convergindo a mente para este ponto, até alcançar um grau de concentração profundo onde naturalmente se desliza para o estado meditativo e contemplativo.
O que acontece durante a prática contemplativa?
Contemplar significa observar sem interferir, resistir ou tentar modificar. Na contemplação você desfruta da vida como ela se apresenta a você e não como você gostaria que ela fosse, de acordo com suas experiências e crenças. É compreender verdadeiramente a diversidade de formas, seres, idéias e possibilidades. È o que chamamos de liberdade de nossa condição “aparentemente” limitada (Moksha).
Liberdade para ser quem se é, e responder pelos frutos de nossas escolhas, de respeitar os outros com seus limites e qualidades, de compreender a vida e suas constantes mudanças e se adaptar aos ciclos. É perceber a vida como um grande jogo (Maha-Lila) onde o melhor jogador é aquele que se diverte mais!
Qualquer um pode meditar?
Sim, Qualquer um pode meditar, basta querer, começar e persistir! Os resultados são incríveis, e não depende de ninguém além de nossa própria força de vontade. Como diz um provérbio védico que gosto muito:
“Sem confiança não há esforço, sem esforço não há realização”.
Namastê!
Ana Cristina da Luz, é bacharel em Educação Física, Especialista em fisiologia do Exercício e professora de yoga e meditação desde 1998 idealizadora e diretora do Yogaluz Escola-Lazer.